Acervo que enche 11 caminhões
Mais de um milhão de itens recebidos pelo petista foram catalogados e serão retirados do Alvorada
Brasília – Até o final de dezembro, um comboio irá cruzar os portões do Palácio do Alvorada. Na carroceria dos 11 caminhões, uma carga de valor inestimável: o maior acervo já colecionado por um presidente da República na história do país. Entre os mais de 1,4 milhão itens recebidos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em oito anos de mandato estão desde apetrechos gaúchos, como cuias e bombas, a joias incrustadas de pedras preciosas.
Cada objeto é fotografado e identificado por uma equipe de 50 servidores, antes de ser despachado para um depósito de 120 metros quadrados no Alvorada. O trabalho é chefiado pelo historiador Cláudio Soares Rocha, 49 anos, um goiano de Catalão que, desde 1988, cuida dos acervos presidenciais.
Diretor de Documentação Histórica da Presidência, Rocha trabalhava no Arquivo Nacional quando aportou no Planalto a pedido do então presidente José Sarney. Preocupado em preservar a memória do cargo e inspirado no modelo das bibliotecas presidenciais dos EUA, Sarney também queria extinguir uma prática soturna mantida pelos seus antecessores.
– Sempre que chegava ao final do mandato, uma fogueira ardia no Alvorada. Eram os presidentes queimando o que não queriam que fosse divulgado – lamenta Rocha.
Quando Sarney se despediu do Planalto, levou 400 mil documentos registrados pelo historiador. Nos últimos anos, contudo, a carga de trabalho tem sido ainda maior para Rocha. Guardião do baú de Lula, do dia da posse até meados de setembro ele havia catalogado 1.403.417 itens, entre presentes, livros e e-mails.
As remessas ocupam oito salas divididas por compensados e um exíguo corredor no subsolo do Planalto. Lula recebe os mais inusitados objetos. Já ganhou um torno mecânico, devolvido a pedido do antigo dono, um saco de banha de porco para usar contra a bursite, descartado por causa do mau cheiro, e até dois cavalos, doados para fazer equoterapia.
Dos gaúchos, só nas recentes viagens ao Estado, o petista recebeu mateira, botas, bombacha, chapéu, lenço vermelho e guaiaca, além de camisetas de futebol. Se quiser sorver um chimarrão, Lula tem 13 cuias. Apenas o acervo de presentes dor gaúchos soma 22,82 mil itens.
Os mais preciosos, contudo, são os recebidos de chefes de Estado. No depósito da Presidência, há uma maquete em ouro do Palácio Imperial do Marrocos e um colar também em ouro, com cerca de um metro de comprimento e quatro centímetros de largura, adornado por 24 esmeraldas e 20 rubis, oferecido pelo rei da Arábia Saudita, Abdullah Bin Abdulaziz Al Saud.
Nem todos os agrados dos colegas são tão suntuosos. O ex-presidente americano George Bush costumava enviar botas e cintos de cowboy. Barack Obama, por sua vez, prefere peças assinadas por artistas plásticos. Já remeteu uma árvore de cristal e uma caixa acrílica com os primeiros artigos da Constituição dos Estados Unidos gravados em ouro.
Lula estuda criar uma entidade para manter sua memória à frente da Presidência, mas ainda não se definiu pela sede.
– Sempre digo que sou o encarregado do maior presente de grego de Brasília. Chego para os presidentes e falo: “agora você cuida disso tudo, às suas expensas” – brinca Rocha.
fabio.schaffner@gruporbs.com.br
FÁBIO SCHAFFNER
Cada objeto é fotografado e identificado por uma equipe de 50 servidores, antes de ser despachado para um depósito de 120 metros quadrados no Alvorada. O trabalho é chefiado pelo historiador Cláudio Soares Rocha, 49 anos, um goiano de Catalão que, desde 1988, cuida dos acervos presidenciais.
Diretor de Documentação Histórica da Presidência, Rocha trabalhava no Arquivo Nacional quando aportou no Planalto a pedido do então presidente José Sarney. Preocupado em preservar a memória do cargo e inspirado no modelo das bibliotecas presidenciais dos EUA, Sarney também queria extinguir uma prática soturna mantida pelos seus antecessores.
– Sempre que chegava ao final do mandato, uma fogueira ardia no Alvorada. Eram os presidentes queimando o que não queriam que fosse divulgado – lamenta Rocha.
Quando Sarney se despediu do Planalto, levou 400 mil documentos registrados pelo historiador. Nos últimos anos, contudo, a carga de trabalho tem sido ainda maior para Rocha. Guardião do baú de Lula, do dia da posse até meados de setembro ele havia catalogado 1.403.417 itens, entre presentes, livros e e-mails.
As remessas ocupam oito salas divididas por compensados e um exíguo corredor no subsolo do Planalto. Lula recebe os mais inusitados objetos. Já ganhou um torno mecânico, devolvido a pedido do antigo dono, um saco de banha de porco para usar contra a bursite, descartado por causa do mau cheiro, e até dois cavalos, doados para fazer equoterapia.
Dos gaúchos, só nas recentes viagens ao Estado, o petista recebeu mateira, botas, bombacha, chapéu, lenço vermelho e guaiaca, além de camisetas de futebol. Se quiser sorver um chimarrão, Lula tem 13 cuias. Apenas o acervo de presentes dor gaúchos soma 22,82 mil itens.
Os mais preciosos, contudo, são os recebidos de chefes de Estado. No depósito da Presidência, há uma maquete em ouro do Palácio Imperial do Marrocos e um colar também em ouro, com cerca de um metro de comprimento e quatro centímetros de largura, adornado por 24 esmeraldas e 20 rubis, oferecido pelo rei da Arábia Saudita, Abdullah Bin Abdulaziz Al Saud.
Nem todos os agrados dos colegas são tão suntuosos. O ex-presidente americano George Bush costumava enviar botas e cintos de cowboy. Barack Obama, por sua vez, prefere peças assinadas por artistas plásticos. Já remeteu uma árvore de cristal e uma caixa acrílica com os primeiros artigos da Constituição dos Estados Unidos gravados em ouro.
Lula estuda criar uma entidade para manter sua memória à frente da Presidência, mas ainda não se definiu pela sede.
– Sempre digo que sou o encarregado do maior presente de grego de Brasília. Chego para os presidentes e falo: “agora você cuida disso tudo, às suas expensas” – brinca Rocha.
fabio.schaffner@gruporbs.com.br